Em quatro décadas e meia uma pessoa vive sensações de medo de todo o tipo e origens.
Em miúdo levei porrada e dei em igual medida, procurando inspirar medo dissuasor nos contrários. Já adulto ameaçaram-me não sei quantas vezes, fizeram círculos ameaçadores à minha volta, mostraram-me e quase golpearam com facas, chaves de parafusos e até gargalos partidos de garrafas, encostaram-me uma seringa ao peito, insultaram-me publicamente no nível mais abjecto, fizeram-me telefonemas com silêncios pouco menos que aterradores, enfim, de quase tudo já experimentei. De uma ou doutra forma, quase sempre a minha retórica e alguma habilidade para o "jogo" psicológico em ambientes de stress foram prevenindo males maiores.
Mas há um medo para o qual nunca consegui o antídoto certo, o medo dos cães. Eu que até vivi 11 anos com a Kimba, uma maravilhosa "pastor alemã".
Tudo terá começado junto da casa da minha avó, na Lapa, em Lisboa. Era um par de autênticos seguranças caninos que por lá se passeava, com a missão de guardarem uma fábrica de tintas. Eu era ainda petiz e já tinha de correr desalmado à frente deles. Creio até que veio daí a minha ulterior fama de velocista. Nem tinha outro remédio.
Muito mais tarde, num dos primitivos empregos, de montador de antenas TV, mal entrava eu no hall de uma casa chique da Lisboa tradicional e eis que vejo vir disparada até à minha anca uma redonda e pequena cadela. Foi uma dentada que nunca esquecerei e a materialização de uma inamistosa relação que contra mim mobiliza indivíduos que não se conhecem entre si, mas que inapelavelmente me maltratam e face aos quais a minha retórica de nada vale. Deve ser uma questão de cheiro.
Vem isto a propósito de mais um "close encounter", esta manhã. Voltei a defrontar o furioso olhar de uma fera de tamanho razoável, que me mirou para avaliar se valeria a pena talvez ferrar-me. Não o fez. Imagino que tenha percebido que neste corpo já mora a marca da sua espécie. Deu meia volta e retirou em passo atlético.
sábado, 11 de outubro de 2008
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