segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

o Luiz Pacheco ficou-se


Há meses trouxe aqui ao Clube um pedaço de "A Comunidade", um escrito neo-realista, marco histórico da língua portuguesa, tão cru no vernáculo como na autenticidade.
No sábado passado, dia 5, o Luiz Pacheco não aguentou mais.
A morte do Luiz significa que não mais leremos entrevistas em que nenhuma entrevistadora podia levar saias, pois o Luiz provavelmente iria querer meter a mão.
Ninguém mais como o Luiz, no nosso meio cultural, chamará de filho-da-p... a quem verdadeiramente quisesse chamar. Só o Pacheco o conseguia.
A morte do Luiz Pacheco retira de ao pé da gente alguém que tinha tanto de erudito, de verdadeiramente culto e conhecedor, como de sacana e engraçado.
Conto uma história que ouvi há dias a Mário Soares, num programa na RTP2.
Algures nos anos de 1960 Mário Soares esteve preso uns meses na sede da PIDE, ali perto do Chiado.
No dia em que saiu, sem aviso prévio, nenhum familiar o esperava e foi-lhe dado apenas o dinheiro para o táxi, que assim o levasse para onde ainda hoje mora, ao Campo Grande.
Passa então o Luiz Pacheco na rua e com a habitual lata de "crava" dirige-se-lhe, dizendo "ó Mário, então já saiste? Ainda bem. Pá, empresta aí 20 paus".
Conhecido que era de Mário Soares, lá levou Pacheco os 20 paus e lá foi Mário Soares a pé para casa, pois nada mais tinha e provavelmente o Pacheco precisava mesmo do dinheiro para comer.
Claro que nunca mais viu Soares os 20 paus e o Pacheco também é verdade que sempre o respeitou, pelo menos nunca lhe chamando filho-da-p... .

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