domingo, 18 de janeiro de 2009

As Urgências da Vida


Devidamente anunciado ao Mundo assim que se soube da sua existência, o Diogo é hoje uma realidade que já alegra todos os que o conhecem e sobre o qual recaiem (qual “Obama do Amadora-Sintra”) inúmeras esperanças e expectativas. Os babosíssimos pais aproveitam este meio para agradecer todas as simpáticas, comoventes e muito tocantes manifestações de carinho e afecto com que têm sido brindados durante estes dias, comprovando ao fim e ao cabo aquilo de que já muito seriamente suspeitavam: vocês são mesmo muito boa gente, pá! Muito e muito obrigado.

Infelizmente (ou talvez não), o Mundo é cheio de contrastes e enquanto numa ala do hospital acontecia o milagre do nascimento (já agora, confirma-se: não são precisas toalhas nem água quente, aquela coisa que se vê sempre nos filmes é uma treta), noutra sucediam-se os pequenos dramas humanos num serviço de Urgências a rebentar pelas costuras.

Foi aí que chegou o Tó. Vamos chamar-lhe assim para protecção da sua identidade e também porque no estado em que vinha nem ele sabia o seu próprio nome.

Seguramente para se proteger do frio ou para afogar mágoas profundas o Tó resolveu emborcar umas cervejolas e umas garrafas de tinto. Várias vezes, várias cervejolas e vários tintos. Algures na estação do Cacém. O seu organismo revoltou-se com tamanha abundância vinícola e o Tó vê-se metido numa ambulância dos Bombeiros que segue desenfrada a caminho das Urgências.

Uma vez chegada desembarcam o Tó (de maca), que resolve fazer um discurso, em alto e bom som, injuriando todos, desde o Governo à Polícia, aos médicos e aos bombeiros, enfim a todos os que lhe foram passando pela etilizada mente.

O soldado da Paz que o acompanhava, ele próprio já um pouco “grosso” pelos vapores que se concentraram na ambulância durante a viagem, desembarca também os pertences do Tó: uma alcofa cheia de couves devidamente acolitadas por uns reluzentes tubérculos e outra alcofa com três estupefactas galinhas.

O agente da autoridade ali presente logo barrou a entrada aos galináceos: que não, não podia ser, ali não entravam animais. Não colocou entraves à entrada dos vegetais, mas galinhas nem pensar. O bombeiro teria de as levar de volta.

Nem pensar! O bombeiro recusa-se a assumir tamanha responsabilidade. Depois ainda o acusavam de roubar tudo aquilo e portanto não levava nada. Chamem-no para salvar vidas, agora para ser ama de galinhas é que não.

Nesta altura, alguns dos frequentadores das Urgências já olhavam com um ar guloso para os legumes e sobretudo para os animais, antevendo a possibilidade de uma boa canja que lhes curaria a maldita gripe que os tinha feito ir ali.

As galinhas estavam estarrecidas. Perderam o dono, não as deixam entrar no hospital e estão um Polícia e um Bombeiro a discutir por causa delas. E aquele senhor lá ao fundo, chamemos-lhe Lelo para protecção da identidade, tinha um brilho suspeito no olhar, por detrás dos alegadamente falsos Ray-Ban.

Depois de intensas negociações chegou-se a uma plataforma de entendimento: o Bombeiro iria transportar as galinhas para a esquadra do Cacém (previamente avisada pelo agente da autoridade de serviço às Urgências), onde ficariam até serem resgatadas pelo legítimo dono. Em caso de necessidade poderiam comer as couves. Em caso de necessidade ainda maior alguém as poderia comer a elas.

E assim foi: enquanto o Tó puxava pela língua e pelos décibeis na sala de observação, os seus amedrontados galináceos foram detidos em prisão preventiva, na esquadra do Cacém, para desalento do Lelo.

Desconhece-se em que condições foram libertas e quais as medidas de coacção que lhes foram aplicadas.

Indiferente a tudo isto, o Diogo resolveu mostrar-se ao Mundo. A parte do Mundo que o conhece, rejubilou e agradeceu.

3 comentários:

Vitor Reis M disse...

fiquei dividido entre a solidariedade com o Tó ou com as galinhas. será que continuam detidas? ficaste com a identidade delas? decerto não têm telemóvel ou família que por elas se interesse. que maçada.
faço entretanto mais um vaticínio: a ocorrência de drama tão telúrico no momento do advento do Diogo há-de querer significar que ele será dono de terras, ou então um estudioso da natureza e da ecologia. para lá de músico, acredito agora que o Diogo será um cientista do ambiente, ou então um arquitecto paisagista. são esses os sinais que leio no firmamento (sim, porque cartas não deito).
ps - mas não consigo parar de pensar nas galinhas.

Master of Menir disse...

Meu querido amigo, fazes o favor de aparecer de forma regular neste "Jet Nove", fazes bem à alma. Vá lá, vem até nós de vez em quando, precisamos da tua presença. Parabéns.

Beta disse...

Bem-vindo Diogo,

Dizem que não escolhemos os nossos pais...mas digo-te eu que conheço os teus há mais tempo que tu que foste um sortudo!
Já tive o prazer de ver uma foto tua e és realmente encantador (como diz o teu pai) e "uma coisinha mais fofa"!!!
Porta-te bem e deixa os papás dormirem!
beijo