domingo, 24 de fevereiro de 2008

algumas razões porque estou um bocado pessimista


1. o presidente do Millennium bcp (Mbcp) dizia ontem ao "Expresso" de um ex-ministro, Armando Vara, que é um "bom Administrador". É preciso ter lata para sequer sugerir que poderiamos ter tido um "mau Administrador" no governo de Portugal. Alguma vez podia ser, com tantos "checks and balances"?

2. não sei se se lembram, um ex-vice-primeiro-ministro, Fernando Nogueira, foi indigitado chefe da delegação em Paris do mesmo banco, depois de ter sido quase 10 anos o nº 2 do governo. Chefe de delegação era um eufemismo para designar o chefe de agência, em Paris apenas um bocadinho mais importante que a da Freixieira.

3. um ex-primeiro-ministro, Santana Lopes, tem um blogue onde as asneiras na ortografia e na sintaxe seriam de rir e chorar por mais se não tivesse o senhor sido o que foi, decidindo durante uns meses os impostos e as leis que afectavam 10 milhões. Claro que houve um dia em que um Presidente da República com requintes de malvadez e gosto pela normalidade acordou para o absurdo e travou tudo às 4 rodas.

4. o mesmo cavalheiro assiste em silêncio e como se em nada lhe respeitasse, de há meses a fio, desfilarem acusações de encobrimentos, favorecimentos, de pequenos actos de quase quase corrupção e deixa que os acusados fiquem em sangue, eles quase sempre ministros e secretários do breve e errático periodo de engano em que o Lopes morou em S. Bento, dirigindo um grupo a que por favor se chamou governo.

5. por sinal, o chefe de Lopes, o ex-médico Menezes, diz que é líder do partido ainda chamado PSD. Quando este partido foi governo, 10 anos seguidos, entre 1985 e 1995, o então chefe de partido e de governo, Cavaco Silva, considerou-o apto para secretário de estado, mas por pouco tempo. Aliás também ao Sr. Lopes, este por muito tempo. Grande expectativa será perceber, se depois de tantas asneiras do Sr. Sócrates o país quiser mudar, se o Sr. Silva vai entregar o país a dois ex-secretários de estado como estes, pródigos em rigor, gravidade e sentido do interesse geral e nacional.

6. voltando ao Mbcp, um idoso de 46 anos reformou-se finalmente, provavelmente alegando o stress intenso provocado pela perseguição movida por um presidente do Conselho Geral e de Supervisão (CGS). Claro que o povo tem inveja e também quer. Mas, para além do Sr. Paulo T. Pinto, quem é que pode invocar razões semelhantes, como ser perseguido por um CGS? Eu não, por exemplo. Provavelmente para não se acentuar o quadro depressivo, embolsou compensação modesta e ocupa-se em programas de estímulo intelectual, como consultor e já provavelmente administrador de outros interesses. Presumo que ao menos recuse voltar a ter um CGS em cima dele.

7. lá fora, em Timor-Leste, o Presidente e o Primeiro-Ministro foram quase assassinados, da mesma forma que eu poderia, se me apetecesse, dar um estalo no meu presidente de junta de freguesia, que aliás bem o merecia. Logo depois o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, o inesquecível Taur Matan Ruak, que tem ums Ray Ban à aviador do género dos meus, veio acusar as forças internacionais de terem ignorado os seus avisos deixando desprotegidos os líderes do país. Pergunto eu se para além de si próprio o senhor Ruak tem mais soldados para chefiar e se sim em que é que se ocupam então.

8. continuando a falar de países indiscutivelmente soberanos, promissores e viáveis, no Kosovo, um território vasto, 23 vezes menor que Portugal - como se sabe um país-continente - a taxa de desemprego atinge os quase 75% e 15% dos kosovares está em situação de pobreza extrema. Ou seja, não têm o que comer. Ainda assim houve felicidade nas ruas e espectáculos. Agora outros que tratem de lhes dar comida e lhes garantam luz, combustíveis, empregos, segurança, confortos, enfim felicidade estrutural. Estou eu a pensar iniciar movimento para declaração da independência, não sei se do Cacém apenas, se também de Lagoa, no Algarve, onde ainda tenho uma parcela de terra de 7,5x50 metros.

9. nos EUA o Sr. McCain tem para oferecer à sua pátria o passado glorioso de um sobrevivente no cativeiro do Vietnam. Sempre foram 5 anos preso e não morreu. A presidência americana serão apenas 4 de cada vez, não é?

10. já o Sr. Obama mereceu capa da Time, que perguntava, "Could He Deliver?" Ou seja, o mundo culto e preocupado interessa-se em saber se o cavalheiro dos slogans fortes, da prosápia grandiloquente e quase messiânica, tudo sempre a favor dos pobrezitos também tem ideias de acção para resolver problemas ligados à vida real dos americanos e, vamos lá confessá-lo, do mundo também. Como se percebe bem, os americanos elegerão o Sr. McCain ou o Sr. Obama e depois então verão.

11. finalmente (desculpa lá o exagero de palavras, ó Clara, mas como estás longe, aproveito!), o Sr. Sarkozy, farto já talvez da Carla Bruni, farto de tantas semanas de intensidade mediática, lembrou-se que ainda vivia no palácio do Eliseu, morada institucional do Presidente da República, e teve uma ideia de trabalho: e porque não obrigar as criancinhas francesas a escolherem um nome, a personalidade de uma das milhares de crianças judias de Paris assassinadas pelos nazis, há quase 70 anos, como forma de pedagogia histórica e cívica. Uma asneira que se torna caso para dizer que o cavalheiro, para além da falta de jeito para relações estáveis, sóbrias e construtivas também ainda não enxergou que nos cargos políticos, a vida é um bocado como cá fora, na vida real, ou nas empresas: pede-se sempre um bocadinho de bom senso e inteligência. Já era assim quando eu estive numa junta de freguesia em Lisboa. Imagino que se peça um bocadinho mais ainda do que "flirtar" em público a um líder executivo da 3ª economia europeia, membro do Conselho de Segurança da ONU e membro do G-8, o clube dos grandes do mundo.

Razão tinha o Vasco Pulido Valente há anos quando dizia que o mundo está perigoso. Ai está pois.

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