O repórter foi investigar, cruzou fontes e pode agora relatar mais desenvolvidamente o que se passou.
O Leo sempre fora um macho viçoso, cão de raça indistinta, talvez herdeiro de gerações de gladiadores.
Os seus passeios na praceta revelavam já antes personalidade efervescente, desafiante, o dente sempre pronto.
A pobre da Estrelinha era uma caniche pequena, delicada, sempre bem penteada, prendada.
Não pareciam feitos um para o outro.
Só que no sábado o Leo decidiu que tinha de ter a Estrelinha. O seu gesto de aproximação era como uma ordem, do género "hoje és minha, abre as pernas".
Mas a Estrelinha não sabia o que isso era. Assustou-se e latiu. Para o Leo só isso era demais. Dente no pescoço e adeus Estrelinha.
A Estrelinha nem chegou a entender. O seu latido era como que uma pergunta: "o que queres?"
O sangue jorrou na praceta e o Leo seguiu como se nada fosse, alçando a perna mais adiante e mijando orgulhoso para o mundo.
O dono encarou o caso como dono de gato que o vê matando rato. Uma perfeita normalidade. Ficou dividido entre a indiferença e o sentido de vocação cumprida. "O Leo é como eu, um verdadeiro macho", pensou.
Já a dona da Estrelinha, segundo consta, depois do estado de choque, dirigiu-se garbosamente ao dono do Leo para lhe dizer que "isto não fica assim, eu hei-de vingar a Estrelinha e espetar uma faca nos cornos desse assassino".
Parece que o dono do Leo rosnou e que o criminoso mostrou o dente e levantou o lábio.
Teme-se agora que aquele dente afiado mostrado tão a descoberto seja mau presságio, especulando-se que o perigo não espreite já somente canídeos mas também humanos emocionais, os mais frágeis e sensíveis.
Em suma, será que outros crimes se perfilam na praceta da Avenida de Roma, já chamada de praceta do Leo? Irá a dona da Estrelinha cumprir a ameaça, vingando a caniche?
Um sítio nada recomendável por estes dias, tenham pois cuidado.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário