Tinha planeado ir esta semana ao Algarve, a Olhão, para finalmente comer o Arroz de Lingueirão que este ano em Lagoa e em Lagos escandalosamente não me ofereceram.
Mas na terça-feira tive um sobressalto. O Pedro Santana Lopes, já por duas vezes meu vizinho, estava em dificuldades.
Empossado de fresco como líder parlamentar do PSD, foi engolido, digerido e expelido em três tempos pelo verbo avassalador do primeiro-ministro.
Eu tinha de fazer alguma coisa.
Por isso, na quarta-feira, entre o Arroz de Lingueirão ou ir ajudar o Pedro, decidi-me obviamente pela segunda hipótese.
É preciso esclarecer em que circunstâncias foi o Pedro meu vizinho.
Primeiro, quando vivia com a Cinha, ou a Cinha com ele, na Rua de Santo António á Estrela. Tinha o infeliz de pagar um apartamento com renda de 500 contos por mês, tarefa nada fácil para quem pouco mais então ganharia como secretário de estado.
Foi vizinho ainda mais perto o Pedro quando começou a trabalhar como advogado em escritório da minha rua, a Travessa de Santo Ildefonso. Foi nessa altura que começou também a namorar a Catarina Flores, que morava no mais belo prédio da Rua de S. Bernardo. Era enternecedor observar o Pedro, tão diligente e romântico, sendo frequente vê-lo a levar o cãozinho da Catarina pela trela.
Ora lá fui eu na quarta-feira ao Parlamento, como não fazia há uns 20 anos.
Fiz fila junto ao Palácio, uns 20 minutos antes das 3 da tarde e experimentei aí uma nova categorização para a minha pessoa. Passei a ser um “individual”. Era o território da PSP, dos “walkie-talkies”, das divisas que nunca conheço, das grandes tensões da treta a bem da segurança da nossa elite e das conversas em código de nível do Intendente ou do Casal Ventoso (conheço bem o segundo, previno já).
E eu de ganga, a fralda fora, a barba por fazer.
Havia mais 14 “individuais” para subir às galerias, humanos quase todos compostos, com gravatinha e blazer.
Estava eu à porta, em fila, passa o deputado Luís com a deputada Helena e “boa tarde senhores deputados”, elabora o mui divisado PSP organizador dos “individuais”. Estaca-se o deputado, olha para mim e dispara um típico “’tás bom?”. Respondo com um talvez demasiado sonante “’tás bom Luís?”. Aí o PSP olha-me gravemente, como que censurando um tratamento tão impróprio dirigido por um “individual” a um senhor deputado.
Percebi então que acabara, talvez, de proporcionar a ilustração do meus traços físicos e indumentários a jusante, quem sabe se para prevenir outros tratamentos informais, da galeria para a Câmara, isto é a bem da nação.
Depois de me despojarem os PSP’s de tudo, óculos de sol, blusão de ganga (reconheço que não era a indumentária mais apropriada, talvez por isso), chaves do carro, carteira, telemóvel, subi ao terceiro andar e perguntei ao primeiro polícia que encontrei pelo WC. Resposta pronta e sisuda: “é xó um bocadinho que eu já faxo uma alocuxão xobre temas importantes como exe”.
Daí a minutos, o boné posto em leve obliquidade e lá viria a ansiada explicação sobre onde ficavam os WC e sobretudo três insistências na proibição de os “individuais” se dirigirem da galeria à Câmara de algum modo, ou menos ainda manifestarem-se com comentários ou palmas. Em duas das três vezes notei que olhou para mim, avisado talvez, não fosse eu lembrar-me de um “’tás bom Pedro?”, ou, pior ainda de um “’tás bom Zé?”. Eu que quanto muito seria capaz de um “’tás bom Francisco?”, ou de um “’tás boa Helena?”. Mas isso os senhores PSP’s não sabiam.
O certo é que eu era na quarta-feira um “individual” sob apertada observação.
Pelo sim pelo não fui procurando lembrar-me das tácticas de fuga dos filmes dos anos 70 de “dirty” Harry/Clint Eastwood. Vejam lá a minha veia premonitória, não é que tinha levado calçados os meus melhores “mocassins”?
Mas na terça-feira tive um sobressalto. O Pedro Santana Lopes, já por duas vezes meu vizinho, estava em dificuldades.
Empossado de fresco como líder parlamentar do PSD, foi engolido, digerido e expelido em três tempos pelo verbo avassalador do primeiro-ministro.
Eu tinha de fazer alguma coisa.
Por isso, na quarta-feira, entre o Arroz de Lingueirão ou ir ajudar o Pedro, decidi-me obviamente pela segunda hipótese.
É preciso esclarecer em que circunstâncias foi o Pedro meu vizinho.
Primeiro, quando vivia com a Cinha, ou a Cinha com ele, na Rua de Santo António á Estrela. Tinha o infeliz de pagar um apartamento com renda de 500 contos por mês, tarefa nada fácil para quem pouco mais então ganharia como secretário de estado.
Foi vizinho ainda mais perto o Pedro quando começou a trabalhar como advogado em escritório da minha rua, a Travessa de Santo Ildefonso. Foi nessa altura que começou também a namorar a Catarina Flores, que morava no mais belo prédio da Rua de S. Bernardo. Era enternecedor observar o Pedro, tão diligente e romântico, sendo frequente vê-lo a levar o cãozinho da Catarina pela trela.
Ora lá fui eu na quarta-feira ao Parlamento, como não fazia há uns 20 anos.
Fiz fila junto ao Palácio, uns 20 minutos antes das 3 da tarde e experimentei aí uma nova categorização para a minha pessoa. Passei a ser um “individual”. Era o território da PSP, dos “walkie-talkies”, das divisas que nunca conheço, das grandes tensões da treta a bem da segurança da nossa elite e das conversas em código de nível do Intendente ou do Casal Ventoso (conheço bem o segundo, previno já).
E eu de ganga, a fralda fora, a barba por fazer.
Havia mais 14 “individuais” para subir às galerias, humanos quase todos compostos, com gravatinha e blazer.
Estava eu à porta, em fila, passa o deputado Luís com a deputada Helena e “boa tarde senhores deputados”, elabora o mui divisado PSP organizador dos “individuais”. Estaca-se o deputado, olha para mim e dispara um típico “’tás bom?”. Respondo com um talvez demasiado sonante “’tás bom Luís?”. Aí o PSP olha-me gravemente, como que censurando um tratamento tão impróprio dirigido por um “individual” a um senhor deputado.
Percebi então que acabara, talvez, de proporcionar a ilustração do meus traços físicos e indumentários a jusante, quem sabe se para prevenir outros tratamentos informais, da galeria para a Câmara, isto é a bem da nação.
Depois de me despojarem os PSP’s de tudo, óculos de sol, blusão de ganga (reconheço que não era a indumentária mais apropriada, talvez por isso), chaves do carro, carteira, telemóvel, subi ao terceiro andar e perguntei ao primeiro polícia que encontrei pelo WC. Resposta pronta e sisuda: “é xó um bocadinho que eu já faxo uma alocuxão xobre temas importantes como exe”.
Daí a minutos, o boné posto em leve obliquidade e lá viria a ansiada explicação sobre onde ficavam os WC e sobretudo três insistências na proibição de os “individuais” se dirigirem da galeria à Câmara de algum modo, ou menos ainda manifestarem-se com comentários ou palmas. Em duas das três vezes notei que olhou para mim, avisado talvez, não fosse eu lembrar-me de um “’tás bom Pedro?”, ou, pior ainda de um “’tás bom Zé?”. Eu que quanto muito seria capaz de um “’tás bom Francisco?”, ou de um “’tás boa Helena?”. Mas isso os senhores PSP’s não sabiam.
O certo é que eu era na quarta-feira um “individual” sob apertada observação.
Pelo sim pelo não fui procurando lembrar-me das tácticas de fuga dos filmes dos anos 70 de “dirty” Harry/Clint Eastwood. Vejam lá a minha veia premonitória, não é que tinha levado calçados os meus melhores “mocassins”?
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